Foto: Eduardo Ramos (Prefeitura/Divulgação)
A comunidade santa-mariense recebeu com surpresa a nova lista de músicas classificadas da 32ª Tertúlia Musical Nativista.Todas as composições que estavam selecionadas para a fase Geral e parte das classificadas na fase Local foram substituídas na listagem publicada na última segunda-feira (17). A revisão ocorreu após irregularidades na avaliação das músicas inscritas, quando dois, dos cinco avaliadores, atribuíram notas de 0,0 a 4,9 a diversas obras, descumprindo o acordo de dar notas entre 5,0 e 10. Em contrapartida, alguns dos artistas prejudicados buscam reverter a situação judicialmente.
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Em entrevista à rádio CDN (93.5), o coordenador do concurso, Cássio Corbellini, deu mais detalhes do caso. Ele disse que os avaliadores que descumpriram o pactuado foram Cícero Fontoura e Régis Reis. Eles apresentaram notas baixas, que em grande quantidade, resultaram em uma discrepância significativa nas planilhas e, segundo o município, violaram o princípio da impessoalidade da administração pública.
– Não foi uma ou outra música, foram diversas músicas. Ficou uma desproporcionalidade, em que 12 a 15 músicas receberam nota 10, e mais de 60% notas inferiores a cinco. Isso ocasionou um desequilíbrio, uma disparidade, uma discrepância visível entre as notas. Com ou sem intenção, acabou manipulando o resultado da triagem da Tertúlia. As orientações sobre as notas está comprovada na troca de e-mails e na própria manifestação deles em manifestação de áudio por WhatsApp As orientações sobre as notas está comprovada – destalha Corbellini.
Durante a entrevista, o coordenador questionado sobre o motivo das notas. À organização, os jurados justificaram que determinadas músicas não tinham qualidade suficiente para participar do festival. Apesar de conhecerem a regra definida em reunião, decidiram atribuir notas menores. Foi solicitado uma retificação das notas, ainda sim manteram suas posições.
O Ministério Público do Estado solicitou esclarecimentos sobre a situação.
Reação dos músicos
Devido as alterações, pelo menos seis artistas já têm representação jurídica para contestar a situação. De acordo com o advogado do grupo, Ricardo Martins, a ação é para validar a primeira lista:
– Entramos com uma “ação anulatória de ato administrativo”, pois a primeira listagem de composições é a listagem correta, em que todos os jurados participaram do julgamento e atribuíram suas notas às obras.
Corbellini afirmou compreender a indignação de autores que haviam sido selecionados no primeiro resultado e foram excluídos após a revisão.O coordenador reforçou, porém, que a prefeitura não poderia manter um processo com irregularidades, sob pena de descumprir princípios legais, como impessoalidade, legalidade e razoabilidade. Ele reconheceu que é possível que alguns músicos judicializem o caso, o que considera legítimo.
NOVOS SELECIONADOS
Veja como ficou depois da revisão. Somente três músicas permanecem na listagem (veja abaixo o destaque).
Confira a primeira lista divulgada aqui.
FASE GERAL
- Dá Voltas – Valsa – Leonardo Quadros / Guilherme Castilhos
- Vertente, Água de Rio – Aire de Chacarera – Igor Mastroiano / Fábio Peralta
- O Fantasma da Milonga – Milonga Progressiva – Mano Costa
- Fiesta en las Alturas – Milonga/Candombe – Tasso Canaparro
- Renascer Querência – Milonga – Caco Teixeira / Giuliano Lanes / Silvio Teixeira
- La Vem a Comparsa – Rancheira – Márcio Oliveira / Evandro Silva / Márcio Correia
- Maria – Aire de Chacarera – Cesar Gomes
- E Deu Bochincho – Milonga – Roberto Huerta / Volmir Coelho
- Pra Ser Luz – Canção – Marco Soares / Nelcy Vargas
- Milongas de Toda Crina – Milonga – Mario Amaral
- Escondida – Milonga – Rafael Miranda Machado / Luciano Fagundes
- Muito Além da Visão – Chacarera – Jairo Martins / Carlos Omar V. Gomes / Emerson Martins
FASE LOCAL
- Em Cada Cavalete – Milonga – Rafael Ovídeo / Pirisca Grecco / Pedro Ribas (estava na 1ª lista)
- Quando Eu Choro Por Ti! – Canção – Paulo Ricardo Costa / Arison Martins
- Esconderijo – Chamamé – Nandico Saldanha / Erick Corrêa
- Depois do Apito do Trem – Chamamé – Salvador Lamberty / Pedro e Rodrigo Raskopf (estava na 1ª lista)
- Ao Centro, Ao Sul – Compasso Taipero – Robson Thomas Ribeiro / João Vitor Cembranel
- Raiz, Fruto e Semente – Chamamé – Luciano Rozalino / Alex Brondani / Gilson Parodes / Halber Lopes / Adams Cezar (estava na 1ª lista)
- Herança Bendita – Chamamé – Alcides Henrique Zappe / Fábio Henrique Zappe
- Santa Maria Canto em Prece – Valsa – Sergio Rosa
- Evoluir – Chamamé – José Matos / Piero Ereno / Diogo Matos
- O Cusco e a Carreta – Milonga – Gerson Goulart
Cronograma como prioridade
Segundo Corbellini, repetir completamente a triagem com novos jurados inviabilizaria a realização do festival, por falta de prazo e risco de perda de aproximadamente R$ 220 mil de recursos do governo estadual:
– A Secretaria da Cultura precisava publicar o resultado que tava no cronograma, era o prazo. Pelo princípio da transparência, publicamos o resultado exatamente com as notas dos avaliadores. Tinham dois caminhos, fazer uma nova triagem com outros avaliadores ou então tomar essa medida. Nesse momento, pela questão de prazo, a medida mais adequada para poder realizar o festival foi essa. Feito isso, a Secretaria da Cultura procurou então se cercar de que elementos jurídicos. Posteriormente, durante esse processo, conversamos novamente com os avaliadores.
O regulamento
O coordenador relembra que nunca havia sido necessário prever notas mínimas em edições anteriores. Agora, a prefeitura pretende incluir critérios mais rígidos no regulamento para evitar novos problemas.
Até então, a triagem das músicas é realizada individualmente e de forma online, sem que os jurados saibam quem são os autores das músicas.Cada avaliador recebe as obras e insere as notas em uma planilha. Elas são devolvidas à Secretaria de Cultura, que publica os resultados e as planilhas completas, permitindo que qualquer compositor consulte as avaliações.
A Tertúlia Musical Nativista é uma realização da prefeitura de Santa Maria, da Associação Tradicionalista Estância do Minuano e do CPF Piá do Sul. A produção executiva é da Plano Comunicação e Eventos, com patrocínio da Podal Distribuidora, Rede Super e Beltrame Materiais de Construção, além de financiamento do Pró-Cultura RS.